As férias escolares de Heitor , e o Relógio que Parou no Tempo

O teto do quarto parecia um mapa branco e vazio. Heitor estava deitado no tapete, olhando para cima, ouvindo o único barulho da casa: Tique… taque… tique… taque.

O relógio da parede parecia preguiçoso. Na escola, a essa hora, o sinal estaria tocando, haveria gritaria, cheiro de lancheira aberta e correria no pátio. Mas ali, na primeira segunda-feira de férias, o silêncio era tão grande que Heitor conseguia ouvir o zumbido de uma mosca na janela.

— Que tédio… — bufou ele, rolando para o lado. O chão frio era gostoso contra a bochecha quente.

Ele se levantou e caminhou descalço até o quintal. O sol do meio-dia bateu em seu rosto, amarelo e forte, fazendo-o apertar os olhos. O cheiro de grama cortada subiu quente pelo nariz.

Foi quando ele viu.

Bem no canto do muro, onde a sombra da mangueira fazia um desenho fresco no chão, algo brilhava. Não era um brinquedo esquecido. Era um rastro prateado e pegajoso que subia pelo tronco da árvore.

Heitor seguiu a trilha com o dedo, sentindo a casca rugosa e áspera da árvore arranhar levemente sua pele. Ele olhou para cima, protegendo os olhos com a mão em concha.

Lá no alto, escondida entre as folhas verdes e compridas, uma cigarra começou a cantar. Crrrriiii-crrrriiii-crrrriiii. O som era alto, vibrante, parecia vir de todos os lugares ao mesmo tempo.

Heitor sorriu. Aquele era o som oficial das férias.

Ele correu para dentro, pegou uma folha de papel e seus lápis de cor. Não precisava de videogame nem de horários marcados. O quintal tinha virado uma floresta gigante, o rastro da lesma era um rio de prata e a cigarra era o dragão que guardava a torre da mangueira.

Heitor percebeu que as férias não serviam para não fazer nada. Elas serviam para a gente ter tempo de ver as coisas pequenas que a pressa da escola esconde. O relógio podia andar devagar, não importava mais; Heitor tinha um dragão cantor para desenhar.