Thomas e o Velho Trem que Queria Voar

As rodas de ferro de Thomas rangiam contra os trilhos enferrujados. Nheeeec… Clac-clac.

Ele não era um trem bala moderno, daqueles brancos e silenciosos que cortam o vento. Thomas era uma locomotiva a vapor, preta, pesada e barulhenta. Ele cheirava a carvão queimado e óleo quente.

Há anos, Thomas fazia o mesmo trajeto: da mina de carvão até o porto. Ele via os aviões passando lá no alto, riscos prateados cruzando o céu azul, livres e rápidos.

— Quem me dera sair desses trilhos… — suspirava Thomas, soltando uma fumaça cinza e triste pela chaminé. — Eu só conheço o chão. Sou pesado demais para o céu.

Um dia, uma tempestade terrível caiu sobre o vale. A chuva transformou a terra em lama. Cabrum! Um raio derrubou a ponte velha que Thomas precisava atravessar.

Ele freou com força. As faíscas voaram das rodas. Ele parou a centímetros do abismo.

— E agora? — gritou o maquinista. — O vilarejo do outro lado precisa desse carvão para o inverno! Eles vão congelar!

Thomas olhou para o buraco onde antes havia a ponte. O vento uivava. Ele sentiu o calor da caldeira queimar em sua barriga de metal. Não era hora de sonhar em ser avião; era hora de ser o trem mais forte do mundo.

— Mais carvão! — apitou Thomas (ou pelo menos, foi o som que ele fez).

Ele recuou. Pegou distância. Acelerar na descida era perigoso, mas era a única chance. Ele bufou vapor, Tchuuuu-tchuuuu, e se lançou.

Quando chegou na borda quebrada, Thomas não freou. Ele acelerou. Por um segundo — um segundo que pareceu durar uma eternidade — as rodas da frente saíram do trilho e ficaram no ar. O peso dos vagões de trás empurrou.

Thomas sentiu o vento bater em seu “nariz” de ferro sem nada embaixo. Ele estava voando! Não como um avião, mas como um gigante de aço saltando o perigo.

Clang!

As rodas bateram no trilho do outro lado com um estrondo. Ele balançou, tremeu, mas continuou nos trilhos. Ele havia atravessado. Naquela noite, enquanto esfriava na estação, Thomas olhou para os aviões lá em cima. Eles eram rápidos, sim. Mas nenhum deles sabia a emoção de voar pesando toneladas de coragem.