Gabriel e o Brilho Escondido de Natal

O gancho de metal estava gelado contra a “cabeça” de Gabriel. Ele balançou um pouco, tonto, até parar quieto no galho de pinheiro.

Gabriel era uma bolinha de Natal vermelha, tão polida que funcionava como um espelho. Ele esperou o ano inteiro dentro da caixa de papelão escura, sonhando com este momento: o dia de brilhar na árvore.

Mas algo estava errado.

— Ei, tem um galho na minha frente! — reclamou ele, vendo apenas o verde escuro das agulhas do pinheiro.

A mão gigante do papai tinha colocado Gabriel na parte de trás da árvore, virado para a parede branca da sala. Ninguém o veria ali. Enquanto a estrela dourada recebia elogios lá no topo e as luzinhas piscavam felizes na frente, Gabriel encarava o rodapé e a tomada.

O cheiro de panetone e chocolate quente encheu a sala, mas Gabriel se sentia murcho, mesmo sendo feito de vidro duro. “Para que eu sirvo se ninguém me vê?”, pensou ele. A tristeza deixou seu vermelho menos vibrante.

A noite caiu lá fora. Dentro de casa, todas as luzes foram apagadas, exceto as da árvore. Clique. O pisca-pisca acendeu.

Foi então que a mágica aconteceu.

Uma luzinha amarela, vizinha de galho, bateu bem na barriga espelhada de Gabriel. O reflexo vermelho disparou para trás, bateu na parede branca e explodiu em um brilho cor de rubi que iluminou o canto escuro da sala.

Um gatinho, que estava dormindo ali naquele canto escuro, acordou encantado com a luz vermelha dançando na parede. Ele miou feliz e começou a brincar com o reflexo.

Uma menininha, ouvindo o gato, correu para ver.

— Olha, papai! — gritou ela, apontando para trás da árvore. — Tem uma luz mágica escondida aqui atrás! É o segredo da árvore!

Gabriel vibrou no galho. Ele não estava na frente, nem no topo, mas descobriu que, às vezes, ficar nos bastidores é o jeito mais bonito de iluminar o escuro. Naquele Natal, ele não foi apenas um enfeite; foi o criador da mágica secreta da sala.