Ian, o Morcego que Tinha Medo de Escuro

Pode parecer piada, mas Ian era um morcego que dormia de luz acesa (ou melhor, perto dos vaga-lumes).

A caverna onde ele morava era úmida, fria e escura como boca de lobo. Enquanto seus primos voavam felizes na escuridão, caçando mariposas e fazendo acrobacias, Ian ficava encolhido no teto, enrolado em suas asas de couro.

— O escuro tem monstros — sussurrava Ian. — Tem corujas de olhos amarelos e sombras que mordem.

Uma noite, uma tempestade forte espantou todos os vaga-lumes da entrada da caverna. A escuridão foi total.

De repente, Ian ouviu um choro fininho. Pi… pi… pi…

Era o seu irmãozinho caçula, Tico, que tinha se perdido no fundo da caverna, onde nem a luz da lua chegava.

— Mãe! Pai! — gritou Ian. Mas o som do trovão lá fora abafou sua voz. Ninguém ouviu. Só Ian sabia que Tico estava em perigo.

O coração de Ian batia tão forte que parecia um tambor. Ele olhou para o breu. Tico precisava dele.

Ian soltou suas garras da pedra. Ele caiu no vazio preto.

Ele abriu as asas e… fechou os olhos. “Use os ouvidos, Ian”, lembrou ele.

Ele soltou um guincho. Iiiiip! O som bateu na parede e voltou, desenhando um mapa em sua cabeça. Ele “viu” a parede da esquerda, a estalactite pontuda e, lá no fundo, a bolinha de pêlo tremendo que era o Tico.

Ian voou. Ele desviou das pedras com uma agilidade que nem sabia que tinha. Mergulhou na escuridão profunda, pegou Tico pela nuca e voou de volta para a entrada.

Quando a manhã chegou, Ian estava exausto, mas feliz. Ele descobriu que não precisava ver com os olhos para encontrar o caminho. Seu superpoder morava justamente naquilo que ele mais temia.