Maria Clara e a Boneca sem Braço

A vitrine da loja de brinquedos brilhava. Havia bonecas que falavam, bonecas que faziam xixi, bonecas que andavam de skate. Todas perfeitas, com cabelos brilhantes e caixas imaculadas.

Maria Clara apertava sua mesada de moedas suadas no bolso. Ela ia comprar a “Princesa do Brilho”.

Mas, num cesto de liquidação no fundo da loja, algo chamou sua atenção.

Era uma boneca de pano. O vestido estava desbotado, o cabelo de lã estava despenteado e, o pior de tudo: faltava um braço. O enchimento de espuma estava saindo pelo ombro rasgado.

Maria Clara parou. A boneca tinha um sorriso costurado meio torto, mas seus olhos de botão pareciam pedir um abraço.

— Essa está quebrada, menina. Ninguém quer — disse o vendedor, passando com uma vassoura. — Vai para o lixo hoje à noite.

A palavra “lixo” atingiu Maria Clara como um soco. Ela olhou para a Princesa do Brilho na prateleira alta, perfeita e fria dentro do plástico. Depois olhou para a boneca de pano, sozinha no cesto.

Maria Clara lembrou de quando quebrou o braço no ano passado e teve que usar gesso. Lembrou como se sentiu triste quando não podia brincar no parquinho. Ninguém a jogou no lixo por causa disso.

— Eu quero essa — disse Maria Clara, pegando a boneca machucada com cuidado.

— Tem certeza? — estranhou o vendedor.

— Tenho. Ela não está quebrada. Ela só precisa de curativo.

Maria Clara levou a boneca para casa. Com a ajuda da mãe, costurou o ombro, fez um vestido novo de retalhos coloridos e deu a ela o nome de “Esperança”. Naquela noite, abraçada com sua nova amiga, Maria Clara sentiu que a boneca era mais macia e especial que qualquer princesa de plástico, porque ela tinha sido salva pelo amor.