A Missão Secreta de Bruna: O Ataque ao Pote de Biscoitos

— Tlek. Tlek. Tlek.

O barulho da chuva no telhado de zinco era o único som na cozinha escura.

Bruna segurava a lanterna com força, os dedos apertando o plástico amarelo até ficarem brancos. O feixe de luz tremia sobre o pote de biscoitos no alto da estante.

O cheiro de terra molhada entrava pela fresta da janela, misturado com o aroma doce de canela que ainda pairava no ar desde o café da tarde.

Ela sabia que não deveria estar ali. “Biscoitos só depois do almoço”, a mãe tinha dito, com aquela voz que não aceita negociação. Mas a barriga de Bruna roncava, um som grave e oco, como um trovão distante.

Ela arrastou a cadeira de madeira. A perna da cadeira rangeu no piso frio.

Bruna parou. Prendeu a respiração.

O coração batia tão forte que parecia querer pular pela boca, com gosto de metal. Ela olhou para o corredor. Nada. Apenas o silêncio da casa adormecida e o tique-taque do relógio na sala.

Subiu na cadeira. O mundo parecia diferente lá de cima. A geladeira parecia um gigante branco e silencioso.

Esticou o braço. A ponta dos dedos roçou a cerâmica fria do pote. Faltava pouco. Só mais um pouquinho…

— Miau.

Bruna deu um pulo. A lanterna escorregou da mão, girando no ar e iluminando o teto, a parede, o chão, até parar focada em dois olhos verdes brilhantes.

Era o Mingau, o gato rajado, sentado na porta, lambendo a pata com total indiferença.

Bruna soltou o ar que nem sabia que estava prendendo. Desceu da cadeira, as pernas um pouco bambas. O gato se esfregou na canela dela, o pelo macio fazendo cócegas.

Ela olhou para o pote lá em cima, inalcançável de novo. Depois olhou para o Mingau, que agora ronronava alto, um motorzinho peludo de conforto.

A fome não passou, mas o medo do escuro sim. Ela pegou a lanterna e fez carinho na cabeça do gato.

— Tá bom, Mingau. Você venceu. Vamos voltar para a cama antes que a mãe acorde.

O biscoito podia esperar até o sol nascer. O cheiro da chuva, agora, parecia mais gostoso do que qualquer doce.

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