Pietro e os Óculos Mágicos

Tudo era um borrão para Pietro. O quadro-negro da escola parecia uma nuvem verde suja de giz. O rosto da professora era uma mancha rosa.

— Pietro, leia a primeira frase — pediu a professora.

Pietro apertou os olhos. O suor frio escorreu pelas costas. Ele não via letras; via formiguinhas pretas dançando. — Eu… eu não sei — mentiu ele, baixando a cabeça.

Naquela tarde, a mãe o levou ao médico dos olhos. A sala era escura e cheia de luzes estranhas.

Quando os óculos ficaram prontos, Pietro teve medo de colocá-los. “Vou ficar com cara de robô”, pensou.

Mas a mãe colocou a armação azul em seu rosto com carinho.

O mundo parou.

Pietro piscou. A mancha verde na janela se transformou em uma árvore. E não era só uma árvore: ele via cada folha, cada galho, e até um passarinho laranja limpando as penas.

Ele olhou para a mãe. Viu as ruguinhas sorridentes ao redor dos olhos dela que ele nunca tinha notado antes. Viu que a camiseta dela tinha florzinhas pequenas.

Pietro correu para o quintal. A grama não era um tapete verde; eram milhares de fiapos individuais. O céu tinha nuvens que pareciam algodão desfiado.

Ele começou a chorar. — O que foi, filho? Não gostou? — preocupou-se a mãe. — Gostei… — soluçou Pietro. — É que o mundo é muito mais bonito do que eu lembrava.

Pietro limpou as lágrimas por baixo das lentes. Ele nunca mais tirou seus “olhos mágicos”. Ele aprendeu que enxergar bem não é apenas ler o quadro da escola, é não perder nenhum detalhe da beleza que existe ao nosso redor.