Catarina e o Sapato Falante (Que Só Sabia Reclamar)

Catarina calçou o tênis novo. Ele era rosa, brilhante e tinha luzinha no calcanhar que piscava quando ela pisava.

Mas, assim que ela deu o primeiro passo, ouviu um resmungo.

— Ai! De leve, menina! — disse uma vozinha abafada vinda do pé direito.

Catarina parou. Olhou para o tênis. — Você fala?

— Falo e reclamo! — disse o Tênis. — Esse chão é muito duro! Essa pedra machuca minha sola! Eca, lama não!

Catarina queria correr e brincar, mas o tênis reclamava de tudo. Se ela corria, ele dizia que ficava tonto. Se ela pulava corda, ele dizia que dava dor de cabeça.

Catarina sentou no banco, chateada. — Você é chato — disse ela. — Tênis serve para proteger e levar a gente para aventuras, não para reclamar.

Ela tirou o tênis e pisou na grama descalça. A grama fez cócegas, fresca e macia. O tênis ficou lá, sozinho no banco, reclamando que o vento estava frio.

Catarina correu descalça, sentindo a liberdade nos dedos dos pés. Ela entendeu que, às vezes, é melhor sentir o mundo com a própria pele do que carregar um peso que só nos impede de aproveitar o caminho.