O Rio que Queria Ser Lagoa

As águas do Rio eram frias, agitadas e barulhentas. Chuááá-bum!

Ele corria dia e noite, batendo em pedras pontudas, despencando em cachoeiras que davam frio na barriga e se espremendo entre margens estreitas de terra. Ele nunca parava.

— Estou tão cansado… — borbulhou o Rio, sua espuma branca girando em um redemoinho de exaustão.

Ao longe, ele via a Lagoa. Ela era parada, azul e silenciosa. Espelhava o céu sem nenhuma ruga. Nenhum peixe precisava lutar contra a correnteza lá.

— Eu quero ser como ela — decidiu o Rio.

Ele encontrou uma curva fechada, onde um tronco velho de árvore e várias pedras grandes formavam uma barreira. O Rio parou de empurrar. Ele se acomodou ali, recusando-se a seguir em frente.

No começo, foi um alívio. O silêncio era bom. Ele sentiu o sol esquentar sua superfície, algo que nunca acontecia quando ele corria rápido.

Mas, dias depois, algo mudou. A água, antes cristalina e fresca, começou a ficar morna e esverdeada. As folhas que caíam das árvores não viajam mais; elas apodreciam no fundo dele. Os peixes, acostumados com o oxigênio das corredeiras, foram embora procurar águas vivas.

O Rio sentiu uma coceira estranha. Ele estava ficando… triste? Não, ele estava ficando doente. Sem movimento, ele não tinha vida.

Uma chuva forte caiu na montanha naquela tarde. Ploc, ploc, ploc. As gotas sussurraram para ele: “A vida é fluxo, amigo. Quem para, estraga”.

O Rio entendeu. Com um rugido de força acumulada, ele empurrou o tronco velho. Crrrac! A barreira rompeu.

A água explodiu para a frente, fresca, rápida e poderosa. Ele bateu nas pedras de novo, sentindo a dorzinha boa do impacto. Ele voltou a correr, limpando seu leito, levando vida para o vale. Ele percebeu que a Lagoa tinha sua beleza, mas a missão dele não era refletir o céu parado, era levar a água para o mar.